Fora da elite do Campeonato Mineiro desde 2011, o Ipatinga pode retornar à elite do futebol estadual nesta quarta-feira. Líder do hexagonal final do Módulo 2, o Tigre precisa vencer o Betim, fora de casa, às 15h, e torcer por tropeço do Democrata, de Sete Lagoas, que enfrenta o Boa Esporte, em Varginha, às 19h. A possibilidade de subir com três rodadas de antecedência não era algo que nem sequer era cogitado pelo Ipatinga quatro meses atrás, quando esteve mais próximo de fechar do que de disputar o Mineiro.
A dívida do Ipatinga gira em torno de R$ 35 milhões. O clube não tem receitas para pagar o que deve e até mesmo para montar uma equipe de futebol. Desta forma, o Tigre não disputaria o Módulo 2 e seria automaticamente rebaixado à Terceira Divisão, mas sem multa. A situação só mudou após parceira com o empresário Raúl Cardona, que faz parte do grupo Elite Football, agencia com base na Colômbio e que tem como clientes o volante Cantillo, do Corinthians, e Copete, do Bahia, por exemplo.
Mas a solução se tornou um pesadelo, já que Raúl Cardona sumiu e não depositou o dinheiro prometido, que seria usado para pagar salários e custear despesas do clube durante o Módulo 2, como viagens e alimentação. Sem nenhuma condição financeira, o presidente Nicanor Pires esteve perto de desistir da disputa, o que significaria o encerramento das atividades do Ipatinga. Além do rebaixamento, o clube seria multado em R$ 200 mil pela FMF (Federação Mineira de Futebol), por não honrar o compromisso feito no arbitral da competição.
"Certamente seria o fim do Ipatinga. Eu ficaria marcado como o presidente que acabou com o Ipatinga. Mas agora eu posso ficar marcado como presidente e resgatou o Ipatinga", disse o mandatário Nicanor Pires, ao UOL Esporte.
Seria o fim para um clube sem recursos, com mais de R$ 35 milhões em dívidas. Foi nesse cenário que apareceu a Kraken Esportes e Entretenimento Participações, grupo árabe-brasileiro disposto a comprar a SAF ipatinguense. Assim que tudo for concluído, o Ipatinga Futebol Clube vai se tornar USD Sports Ipatinga. Enquanto isso, dentro de campo, com recursos garantidos, o time faz uma campanha surpreendente.
Quinto colocado na primeira fase, o Tigre não chegou entre os favoritos para o hexagonal final, mas, passadas sete rodadas, tem a melhor campanha até o momento desta fase. Uma vitória nos três próximos jogos pode ser o suficiente para garantir o retorno à elite do futebol mineiro, de acordo com a combinação de resultados. Além do Betim, adversário desta tarde, o Ipatinga ainda vai enfrentar o Tupynambás, no Ipatingão, e o Boa Esporte, no estádio do Melão, em Varginha.
"O acesso não era não algo que passava pela nossa cabeça, até pela dúvida que existiu sobre disputar ou não a competição. Mas depois da primeira fase, pelo empenho e pela qualidade que o nosso grupo de jogadores mostrou, a gente tinha certeza que brigaríamos pelo acesso neste hexagonal final", completou o presidente Nicanor Pires.
Os anos de ouro do Ipatinga
O Ipatinga teve ascensão meteórica na primeira década como time profissional. Até então um clube amador da cidade, o Novo Cruzeiro se tornou o Ipatinga Futebol Clube, em 21 de maio de 1998, quando registrado na FMF pelo empresário Itair Machado, o idealizador do projeto. Dez anos depois, a pequena equipe do Vale do Aço já tinha duas finais de Campeonato Mineiro disputadas, com um título conquistado, uma semifinal de Copa do Brasil e estava na Série A do Campeonato Brasileiro.
Até pela questão financeira, a campanha no Brasileirão de 2008 foi dentro do esperado, mas o Tigre caiu como lanterna. O rebaixamento foi confirmado na derrota por 4 a 1 para o Grêmio, em jogo válido pela 37ª rodada. O clube seguiu na Série B e entre os protagonistas do futebol mineiro, tanto que disputou a terceira final estadual na temporada 2010.
Em determinada época o Ipatinga cedeu jogadores para vários grandes clubes do Brasil. Os zagueiros Teco e Willian, o lateral direito Luizinho, os volantes Paulinho e Léo Medeiros, os meias Walter Minhoca e Gerson Magrão, além dos atacantes Diogo Silva, Alessandro e Marinho se destacaram com a camisa quadricolor e foram contratados por equipes como Flamengo, Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio, Corinthians e Santos, entre outros mais. O técnico Ney Franco, campeão mineiro em 2005 e semifinalista da Copa do Brasil do ano seguinte, saiu direto do Tigre para o Flamengo.
Novo nome, nova cidade e o adeus de Itair
A temporada 2011 foi de contraste para o Ipatinga. Rebaixado no Mineiro, o clube do Vale do Aço conquistou o acesso à Série C, já que havia caído na Série B de 2010. Portanto, em 2012, seria um ano no Módulo 2 no Mineirão e na Segunda Divisão do Brasileirão. Mas o Ipatinga deixou a cidade de Ipatinga. Foi para Betim e adotou o nome da nova cidade. O projeto não deu certo e menos de dois anos após deixar Ipatinga, o clube estava de volta à sua cidade de origem.
Foi nesse período que Itair Machado deixou o comando do clube. Marcado pela passagem pelo Cruzeiro, quando foi vice-presidente de futebol, o dirigente foi investigado pela Polícia Civil e responde criminalmente pela gestão na Raposa. Foi no Ipatinga que Machado ganhou projeção estadual e até nacional. Foram 15 anos à frente do clube do Vale do Aço, até que em metade de 2013, quando se afastou definitivamente do clube. No entanto, desde então, o Ipatinga é comandado por amigos e pessoas que estavam no clube durante o período de Itair Machado.
Mais uma de uma década após o rebaixamento no Mineiro, o clube está próximo de voltar à elite do futebol local, com o sonho de retomar o sucesso não tão distante. Montar uma categoria de base, ser novamente protagonista em Minas Gerais e disputar novamente competições nacionais serão os próximos passos, já como uma SAF.
